sábado, 2 de julho de 2011

Amor sem mistério

Aplicativos no Facebook invadem sites de paquera e revolucionam modelo de encontros na internet
Por Michelly Rosa



O mundo da paquera na internet pode dizer adeus a nomes falsos, apelidos e perfis misteriosos. Na era das redes sociais, aplicativos de encontro infiltram-se no Facebook e provocam mudanças não só na estrutura desse tipo de ferramenta, como no público alvo. Este novo modelo representa a grande confiabilidade que usuários do Facebook depositam na rede, permitindo que esta prática tradicionalmente escondida, com nomes falsos e características duvidosas, torne-se público e seja compartilhado em tempo real. Alguns deles como Zoosk, Social Connect, HeartBrooker, oferecem aos paqueradores confessos contato direto com os possíveis pares.
Todos os serviços são pagos. O cadastro gratuito é apenas o pontapé inicial para os contatos que podem ser cobrados em forma de parcela mensal ou “créditos”. O Zoosk oferece o preço padrão de sites de relacionamento, com valores de R$ 24,99 a R$ 49,99 por mês. O HeartBrooker utiliza um método diferente de cobrança, onde o compra “Corações” de crédito. Quinhentos “Corações” custam em torno, de oito reais.
Outro aspecto importante é a quebra dos paradigmas que rondam sites de namoro pela internet. Usuários do Facebook são pessoas descoladas, com muitos amigos, e que também fazem parte das redes de paquera. Explicação para isso? Foi o que procuramos. E o resultado é bem interessante: os paqueradores estão assumindo que querem ou precisam de um amor. Publicamente. Sem nenhum pudor.
Na pele de um pseudônimo, entrei nesse mundo para descobrir quem são como são e porque essas pessoas assumiram a procura por um novo amor na internet. Durante mais de um mês acompanhei estórias, paixões e até pedidos inusitados. Ferramentas de encontro no Facebook são apenas adaptações dos sites de paquera e por esse motivo apresentam características bastante semelhantes.
Os serviços são pagos e, por isso, a maior parte do contato é feita via Facebook ou Messenger. O Heartbroker e o Social Conect são aplicativos basicamente estrangeiros, poucos brasileiros utilizam, mas oferecem as melhores ferramentas e maior diversidade de contatos. O Zoosk é quase totalmente utilizado por brasileiros e já é um sucesso.
Foi através do Social Conect que conhecemos Kalathur Sudarshan, um indiano de 26 anos, cientista de computação, nerd, totalmente vidrado em sites de paquera na internet. Kalathur vive praticamente num mundo virtual. Dorme duas horas por dia e paquera no horário de expediente. Das 23h30min, horário de Brasília, às 08h30min no horário de Dubai, breves conversas foram aos poucos formando a estória do indiano.
Os diálogos entre o personagem escolhido e Kalathur duravam no máximo meia hora, devido à dificuldade com o fuso horário. Foram três semanas de papo pelo talk do Facebook. Com pouco tempo de conversa, o indiano já se comportava como um namorado, o tratamento para personagem passou de ”Hi” para “my dear”. Até que enfim, Kalathur fez uma proposta inusitada: fazer amor pela internet.
A primeira reação soou na pergunta: “What?”. O indiano explicou com detalhes o processo e dizia sempre: “é só fechar os olhos e me imaginar perto de você”. Perguntado se costumava fazer esse tipo de prática pela internet, ele respondeu: “é claro!”. Vale lembrar, que Kalathur estava sempre no trabalho enquanto mantinha as conversas pelo Facebook.
Luis Phelipe, um carioca de 32 anos, chamou a atenção pela sinceridade. O contato foi realizado pelo Zoosk e ao contrário do personagem estrangeiro, não se desenvolveu um relacionamento. O que não atrapalhou em nada absorção de estórias interessantíssimas.
Luis é deficiente físico. Fez questão de salientar o fato na primeira linha de conversa. Morador da Ilha do Governador, Luis vive ao lado do aeroporto e sonha viajar para Miami. A naturalidade diante da situação física de Luís, fez com que ele criasse uma espécie de euforia em relação à nossa personagem. Queria marcar encontro já na primeira conversa.
Irritado por que por algum motivo não conseguia visualizar a foto, Luis contou sobre a deficiência, planos para o futuro, experiência no amor. Tornou-se cadeirante no ano de 1995 quando sofreu um acidente de carro na Avenida Brasil e perdeu os movimentos dos membros inferiores. Desde então luta por uma vida normal e já pensa em viajar para Miami no próximo ano, com dinheiro do trabalho como vendedor de bijuterias.
Luis é um homem alegre, que acredita em signos e se mostra absurdamente sensível. “O que significa amor para você?” perguntou. Em outra conversa ele revela: “queria ser único para você, você me entende?”. Contraditoriamente, essa característica de Luis traz consigo um leque de decepções amorosas.
Não passado muito tempo de conversa, ele volta a afirmar: “vou ver no shopping o dia do barzinho com música pra gente se encontrar”.
As histórias de Kalathur e Luís pouco se diferenciam dos sites de paquera tradicionais, mas a forma, a proximidade do real é muito mais latente. Uma conversa pelo Facebook tem menos chance de ser irreal. Conhecer alguém através de um ferramenta que já disponibiliza o nome completo, a profissão, a empresa, os interesses da pessoa desejada é ainda mais perfeitamente adaptado ao mundo pós moderno e sua necessidade de certeza. É o mesmo conteúdo, numa forma muito mais confortável, atraente e segura.

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