quinta-feira, 23 de junho de 2011

"Sites de paquera nadam contra maré da rede"

Por Vinícius Cunha

Buscar seu par via internet não parece das melhores resoluções para a pesquisadora Cristina Rego Monteiro, doutora em Cultura Contemporânea pela UFRJ. Para ela o filtro é um ponto positivo, mas a escolha virtual apenas retarda o contato, em relação ao que as pessoas buscam. Nesta entrevista a especialista questiona a eficácia dos sites de paquera e ressalta o poder das mulheres nas relações nascidas no meio virtual, que são um dos mais novos fenômenos mundiais.

Jornal Laboratório: Quais os pontos positivos que os sites de paquera trouxeram?

Cristina Rego Monteiro: Pessoalmente, há uma perda no processo de construção de percepção do outro quando a ambiência do primeiro contato se dá desfalcada da troca sensorial porque a leitura do outro é fundamentalmente subjetiva. Se por um lado o filtro é facilitado pela rede, porque amplia a exposição para o número de contatos, a recuperação vai ter de acontecer quando chegar o momento do encontro.

JL: A popularização dos encontros virtuais pode modificar o modo usual das relações humanas?

CRM: Não gosto de nada que mude o processo natural que é determinado pelo psíquico individual e transforma nossa capacidade e conexão em mecanismo agregado de programa digital. As pessoas por natureza se deixam levar pelas relações e consequentemente fazemos projeções do que criamos e queremos do outro.

JL: As falsas identidades podem levar ao falso amor?

CRM: Não imagino uma maneira de garantir que a pessoa, por ventura, não seja levada por uma falsa identidade. O encanto por outra pessoa apresenta uma construção que faço dela. É como se estivesse descobrindo um antídoto de mim mesmo. Me custa crer que uma pessoa que já tem um nível de consciência equilibrado aceite o risco de interagir com tantas possibilidades em aberto sem o suporte da percepção direta.

JL: Como vê a participação feminina nos sites de paquera e afins?

CRM: Pela representatividade, a participação feminina nas redes é uma conseqüência natural das conquistas anteriores. A mulher é multi-funcional. Ela cuida de si, da casa e da profissão. Como não cuidaria da seleção neste novo cenário que a Internet proporcionou?

JL: O fenômeno poderá ser tratado como hegemônico?

CRM: Sem negar o fato, considero um fato natural do uso consciente da Internet, mas espero que se afaste das atividades que substituam a troca presencial. O teclado, o mouse e a tela estenderam ao invés de comprimir as preliminares de um relacionamento, indo contra a maré da rede.

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